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FUMAÇA SAGRADA! SOBRE O INCENSO

Reverendo Padre Brian Satterlee
Reitor da Igreja de Saint Albert
Grelley, CO USA

Reproduzido com a devida permissão de “Ubique”, Edição 286, de Primavera/Verão 2002.

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“Do nascer ao por do sol, o nome do Senhor deverá ser glorificado. Em todos os lugares incenso deve ser oferecido em seu nome.”

Com que freqüência ouvimos estas palavras em nossa liturgia? Lembro-me quando criança, sentado na igreja contemplando as nuvens de fumaça aromática subindo a partir do turíbulo. Eu não entendia muito o significado das orações, mas o incenso falava por si só uma prece.

O uso do incenso pode ser constatado desde os mais antigos tempos. Já em 30.000 anos a.C. já se tem vestígios de seu uso. Muitos acreditavam que uma alma aprisionada em um objeto poderia ser libertada através da queima de incenso. Além disso, queimadores de incenso foram encontrados em Jericó em 7500 a.C. Gregos e Romanos desde a antiguidade dedicavam muito de seu tempo em rituais que utilizavam incenso e os antigos egípcios adoravam Rá com compostos aromáticos de dezesseis ingredientes, três vezes ao dia. O uso do incenso era comum na antiga Pérsia, e continua sendo utilizado por hindus, budistas e muçulmanos indianos em cerimônias atuais. Índios americanos queimavam salva e cedro para repelir maus espíritos e atrair bons espíritos. E enfim, o Incenso do Líbano e a Mirra foram dois dos presentes dos Magos a Jesus Cristo.

O incenso é mais comumente encontrado em três formas: gomas ou resinas, madeiras e ervas. Resinas ou gomas provêm da seiva de árvores e plantas (como o olíbano e a mirra). Os incensos de madeira provêm de pedaços de árvores, incluem-se nesta categoria o sândalo e o cedro. E dentre as ervas, pode-se citar a sálvia e a erva-doce.

O tipo de incenso mais utilizado em cerimoniais é o olíbano. A resina de Olíbano ou árvore seiva é obtida a partir da seiva da árvore do gênero Boswellia. Tais árvores são naturalmente encontradas na extremidade sul da Arábia e em pequeno território da Somália. O Olíbano é obtido realizando-se pequenas incisões na casca destas árvores. No calor do final da primavera, sua seiva escorre e depois de duas ou três semanas, já endurecida e tendo adquirido uma coloração amarela ou âmbar, já pode ser raspada. As melhores qualidades de olíbano são as obtidas tardiamente, na última temporada da colheitas. Este processo é muito trabalhoso, isto explica seu alto custo. Assim, no tempo de Cristo, uma libra (nota do revisor: 1 libra equivale a aproximadamente 454 gramas) de olíbano era vendida ao preço de 500 dólares por libra, na correspondência com a moeda corrente. A melhor mirra vale de seis a oito vezes esta quantia. Não é de se admirar que estes foram presentes oferecidos pelos três Reis Magos à Jesus, segundo o Evangelho de Mateus (NR: Mt 2:11). Este custo elevado também se explicava pelo fato dos bosques de Boswellia serem controlados de forma monopolizada por uma casta familiar hereditária, o que continua ocorrendo em algumas regiões. E também porque, durante séculos, todas as tentativas de transplantar estas árvores para outras regiões falharam.

Na Bíblia há menções sobre o uso de incenso. Por exemplo, no livro de Êxodos (NR: Ex 30:34), vemos que Moisés trouxe do alto do Monte Sinai não só instruções detalhadas para a Arca da Aliança, mas também receitas de incenso sagrado (Olíbano, gálbano, onicha, estoraque) com rituais específicos para seu uso. Além disso, em sua visão, São João vê um anjo que vem das alturas até ao altar, e que oferece incenso para que a fumaça de sua queima subisse juntamente com as preces do povo até o Senhor. (Ap 8:3-5)

Os incensos, contudo, não podiam ser usados abertamente nos primórdios da Igreja Cristã, uma vez que evidenciariam a ocorrência das celebrações cristãs, que na época ocorriam de forma secreta. Em meados do século IV, o Cristianismo já se desenvolvia de forma livre e aberta. É então que o incenso pode ter sido usado pela primeira vez publicamente na cerimônia cristã.

Nos Cânones Apostólicos, o incenso é um dos requisitos nas Cerimônias de Eucaristia. As práticas de sacrifícios evoluíram do primitivo sacrifício de animais para o uso atual do incenso. Na utilização de incensos nas missas, podemos perceber o turíbulo como o antigo altar de sacrifício, no qual é ofertada a resina, que é em essência o sangue da árvore. Este sangue é então queimado em sacrifício. O recipiente no qual fica o incenso antes de sua utilização é a representação de um barco; sendo que os mais antigos lembram a Arca de Noé. Como nos conta a história do Antigo Testamento, os abrigados nesta foram salvos e levados para terra firme para que se multiplicassem e se tornassem o novo sacrifício vivo, simbolicamente o incenso é ressuscitado do barco para o turíbulo e nele é colocado sobre o carvão quente. Assim sendo, a representação do sacrifício do antigo testamento continua sendo reavivado em um refinado ritual de experiência espiritual.

Juntamente com o ato do sacrifício, o aroma dos incensos podem nos afetar de várias formas, existe toda uma ciência envolvida nos efeitos provocados pelos estímulos olfativos sobre a natureza humana. Todos já devem ter tido a experiência de sentir determinado cheiro e relembrar um tempo, um lugar ou uma situação vivenciada, mesmo que nos primórdios da infância. O cheiro de abóbora empanada me remete à minha infância em casa na Pensilvânia. Cientistas afirmam que os órgãos envolvidos com o olfato são extremamente conectados às partes mais primitivas do cérebro. O olfato é o único sentido ligado diretamente ao sistema límbico, que é a fonte mais poderosa das emoções do homem.

Embora os odores afetem o organismo, existem mais de cem variedades de incensos conhecidos e cada um tem o seu efeito sobre os órgãos superiores. Muitos estudantes da vida interior sabem que tudo na natureza irradia o seu próprio tipo de vibração, algumas destas vibrações são úteis, outras indiferentes e outras podem ser até mesmo prejudiciais para nós. O incenso não é uma exceção, portanto, é possível misturar determinados tipos de incenso para que sua queima seja capaz de estimular os mais puros e elevados sentimentos, sendo o inverso também possível. É muito importante não só em relação aos incensos, mas também a tudo que é oferecido à Deus, ofertar sempre o melhor possível.

Na Igreja Católica Liberal, usamos incenso em quase todas as partes de nossa liturgia, tirando benefício de sua enorme influência. É geralmente usado o olíbano e o Benjoim (NR: estoraque ou Styrax benzoin), ambos conhecidos por suas poderosas qualidades radiativas purificadoras e devocionais. Acreditamos que, uma vez abençoado o incenso se torna mais intenso e torna efetiva a benção em qualquer coisa com a qual ele entre em contacto. O cheiro é somente um dos sentidos estimulados para chamarmos de volta à nossa missão (sendo os outros: cores e arte para os olhos, músicas para os ouvidos, tato e paladar para a Comunhão, etc). C. W. Leadbeater afirma, em “A Ciência dos Sacramentos” que: “O uso do incenso é cheio de significado. Ao mesmo tempo é simbólico, honorífico e purificador. Ele sobe diante de Deus como símbolo das preces e devoção do povo, mas também ele se espalha pela igreja como um símbolo da doce fragrância da benção de Deus” (C.W. Leadbeater, The Science of the Sacraments - Adyar: Theosophical Publishing House, 1920, 84). Quando o altar é incensado durante a celebração da missa, toda a área ao redor é permeado com uma elevada e santa influência, e os anjos do incenso utilizam-se destes instrumentos de transformação para a nossa transformação.

Da próxima vez que ouvirmos referências ao incenso em uma das partes mais importantes do sacrifício da Missa, lembremo-nos que o incenso é bem mais do que apenas fumaça:

“Como este incenso que se eleva em tua presença, Oh Senhor, assim venha a nossa prece alçar-se diante de teus olhos. Que os teus santos anjos venham rodear o teu povo e infundir-lhes o espírito de tua bênção”.

Rev. Pe. Brian Sattelee

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Texto original publicado em inglês na “The Liberal Catholic”
revista internacional da Igreja Católica Liberal
Volume LXXIII, no 3 / Setembro 2008

Tradução: Ana Helena Alves Franco
Colaboradora, estudante de Medicina Veterinária – Uberlândia –MG

Revisão: Monsenhor +Marcelo Rezende


 



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